são muitos fótons

ardendo em minha retina.

tão magnífica aparição

que até esqueço das dores

insistentes em meus dedos mutiles.

 

talvez não se lembre

de como veio parar aqui,

ou estranhe a paridade

entre o meu esguicho vascular

e seus lábios escarlates.

 

antes em você nada havia.

não passava de uma atraente

folha nua aguardando meu riscar.

como um maestro, entre cortes

profundos te esbocei. eis que te fiz.

 

quando houve o primeiro

bater de pálpebras, me disse para

não te prender na parede.

hílare engano seu, já não estava mais

em dois planos, personificou-se.

 

é provável que saia quando ver

quão belos são os prismas,

que vá correndo entre libélulas,

que sambe em rodas tropicais,

que nem ao menos olhe para trás.

 

ao fortuito criador restará ser

expectador de sua exuberância,

estancar os fluídos, fechar os olhos,

esperando o dia em que essa

explosão de luz se sinta toda sua.

 

 

Luiz Belchior
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