Dor, magoa e só...

Dor, magoa e só...

Ando observando bem os recuos que vem machucando,
As recusas aos pedidos de abrigo ou ao menos presença
Num olhar que enxergue toda essa solidão
Nesse meu coração que chora sem gemer, nem reclamar,
Já que não teria a quem contar toda essa magoa,
 
Ando medindo os cantos, o escuro, a ver...
Se ainda eles não me rejeitariam, se ao menos o vazio
Me acolheria num abraço longo... E demorado
Onde poderia me entregar novamente ao silêncio
De um vácuo, um espaço vazio qu’eu possa completar
Com toda essa ausência de um abraço amigo...
 
Toda essa falta dum olhar que compreenda uma dor
Quase que sem motivos... Sem pretextos a sorrir,
Ou a quem dividir um sorriso amigo,
Sem quem roubar um olhar, ou cativar um gargalhar,
Sem ter o que e a quem sempre...
E os prantos... E se assim ao menos os prantos
Me consolassem, mas nem eles se me achegam,
 
E numa última esperança, numa última ousada tentativa
Me lanço ao vazio, e me rendo ao fundo dum baú
De chave e sem dono nem como, me exilando,
Trancando e pr’um fundo retornando,
Pr’um lugar donde jamais deveria ter ousado me levantar...
 
A procura de um olhar amigo a quem pudesse distinguir
Como responsável por um sorriso si quer...
A um regozijar só em ter sempre por perto um anjo,
Que dizem chamar de amigo, que ao quer de abrigo
Se faz um abraço, no qual nunca fui digna desse amparo
Ou si quer um sorriso reciproco sincero ou cumplice,
 
Agora ainda com tantas abordadas de repulsas e repudio
Ainda carrego a esperança de num cantinho escuro qualquer
Ainda haver um vão espaço que me caiba...
Com toda essa minha magoa e dor de um mundo onde...
Nunca teve lugar pra um sorriso meu, só escárnio,
 
Solidão ao menos tu seja-me por abrigo... Te suplico...
Não amizade, apenas um cantinho escuro e abandonado
Pra onde possa voltar ao pó... Por dó, solidão
Dê-me apenas um canto frio sem manto mesmo
Pra que com toda minha dor, magoa e só

Volte ao pó, amparada pela ausência, feito um nada.

 

 

Allinie de Castro
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