LUCIA
Belo Horizonte, 27-11-1977
Um homem andava sozinho
No meio da rua,
Como se fosse a lua
Vagando sozinha
No meio do céu.
Pedia perdão pelos pecados
Que não eram seus.
Entrou em um bar,
Pediu uma cachaça
E engoliu de um trago,
Pois já estava de saída
Para a madrugada.
Encontrou com Lucia,
Parada num poste
Esperando um homem,
Que mudasse a sua sorte.
Lucia sorriu-lhe e
Correu a abraçá-lo,
Ele apalpou-a,
Sentindo na roupa
A pele macia,
Morena e tardia.
Entraram num carro
E foram delirar,
Trocando caricias,
Inocentes malícias
De quem quer amar.
Entraram num quarto,
Trancaram a porta,
Tiraram as roupas,
Rolaram na cama,
Tiveram prazer.
Ela quase morta,
Ele suando,
Ela insana.
Saíram da casa
Medrosa e maldosa,
Suspeita e atraente.
Saíram pra rua,
Ela gloriosa
E ele contente.
Andaram na chuva,
Andaram na lua.
Tempo chuvoso
E ele glorioso,
E ela molhada,
E eles felizes.
Lucia noturna
Pensava na vida,
Corria molhada
Na vã esperança
De ver a alegria.
Ficava enjoada,
Um filho viria.
Na sua andança
O pai, quem seria?
Foi um homem,
Mas, qual deles?
Nenhum respondia.
Então foram todos eles
Mas nenhum assumiria.
Foi o mundo inteiro,
A verdade lhe doía,
Lhe gelava o coração.
Pois o amor verdadeiro
Mais tarde,
Estaria em suas mãos.
Pobre Lucia,
Mulher poesia.
Mulher solidão,
Mulher que agia
No meio da escuridão,
Mulher que sofria
Sem direito e sem razão.
Um dia o mundo
Tentou lhe ensinar
Uma grande lição.
Não morrer sem ter amor.
E ela teve muitos,
Até demais.
E por isso sofre
As amarguras do mundo,
Sem dizer uma palavra
Que lhe sirva de razão.
Um dia Lucia morreu
Porém, não foi enterrada.
Não tinha quem lhe desse
O seu ultimo prazer,
De ser levada por alguém.
Mesmo morta,
Lucia ainda vivia
No coração dos boêmios,
Na mente dos moralistas.
Lucia era efeito e causa
De ideias antagônicas,
Ódio e amor,
Prazer e desprazer,
A noite e o dia,
O sol e a lua.
Lucia à noite,
Lucia ao dia.
Lucia e Lucia.
O que ninguém sabia,
É se era Maria Lucia
Ou Lucia Maria?
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