Poesia, quem me dera.

Poesia,
quem me dera que minha mão
da tua pura beleza não se desviasse,
que com maus pensamentos não te manchasse,
que apenas te usasse para cantar o belo,
o cândido amor
e todo o fantástico,
e todo o espanto do olhar!

Quem me dera que de ti escrevesse
Como no dia em que nasceste,
Nua, pura,
Embora a chorar não era tempo de penar,
Mas agora,
Com a minha idade,
Com saudade da tua pureza,
Vendo o Mundo como está,
Cheio de abutres,
Só me dá para chorar
Sem que meus olhos enxugues,
E se ao nasceres choráste,
Eu choro em todo o meu viver
Por tudo o que em mim mudáste,
E desculpa a franqueza
Da minha humana natureza,
Peço-te para fecahres os olhos,
Tapares os ouvidos,
É  que não aguento mais,
Tenho que dizer:
O Mundo que se vá foder,
Porque fodidos estamos nós,
E tu, pura poesia,
Nada podes fazer!
Só ver!:
Poucos a muito enriquecer
Muitos a muito empobrecer!
A ser assim,
Desculpa, poesia,
O Mundo que se vá foder!
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Autor deste original inédito:
Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre d elá.buraque)
Gondomar-PORTUGAL
 

Silvino Taveira Machado Figueiredo
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