Tão distantes!...
Eu aqui longe de ti,
destoantes, vivemos sós.

As pessoas avaliadas
pela metas flutuantes
expressam emoções ensaiadas
diante dos espelhos das estantes.

Alheio, a marcar passo
neste chão de estrangeiros
sinto em meus braços
o embolorado cheiro
da anódina camada de pó.

Depois vem a boca
da noite ofegante
depois dela, a língua grande
da madrugada deixa
em nós o gosto aziago
da interminável insônia.

Amanhã, em vez de estrelas,
por que não sermos da constelação,
criado, esposo, amante?

Parecemos todos com um mero admirador
aposentado para a matéria amor.

Por que estamos vivendo sós
semelhantes aos capitalistas anticomunistas,
Constituintes de extrema direita,
sindicalistas de esquerda
inconformados com a política
imperialista que reduz nossa riqueza a dó?

Por que se após a morte
seremos nada mais além de pó?

É imprescindível que acendamos
o lume de nossa vida.
Somos senhores não de oposição,
todavia, à felicidade pactuados.

Meu bem o que se vive
e o que da vida se leva
são os intervalos
entre um e outro sonho.

Precisamos dissolver esta camada de pó
e as indiferenças que se avolumam entre nós.

No universo, embora tenhamos a intenção,
não somos de pedra;
somos instáveis como as flores.

Apesar das guerras,
ainda respiramos propensos aos amores
posto que compostos de corpo, alma e coração.

Curitiba, 28/01/1989