Projetando-se em Telas

Novelas são vividas, filmes são sentidos.
Pessoas são esquecidas, amores são perdidos.
Para as telas voam as mentes.
E ficção é o que domina as almas carentes.

Durante quatro ou mais horas de um dia rotineiro,
donas ou semidonas, pacatas, de casa torcem com as almas em chamas,
para que chamas não faltem ao coração da mulher televisionada,
chamas estas de amor,
por um homen de valor,
mas também enquadrado em telas,
no qual abundam os símbolos da inverossímil perfeição romântica.
Porém essas donas, semidonas das vidas suas,
e pela fé quase donas da vida alheia,
deixam escapar de suas memórias
a vida que se passa defronte a tela,
as costas das vidas delas.
E esquecem de notar que atrás,
sentado está, na mesa,
mesa cotidiana (sem os manjares das telas),
um homen real.
Que não recebe de seus corações
chamas tão ardentes quanto aquelas as quais elas emprestam a mulher televisionada.
Empréstimo este, que em verdade
tem por objetivo gerar amor.
Amor a um homem,
O qual difere em muito daquele sentado a mesa:
Não tem suas realidades.
São donas que, por um sexto de dia, não vivem, mas projetam-se.
Felizes das dezoito às vinte e duas.
Duas vidas.

Seria arcaico o pequeno poeta?
E traria de volta, em seus soltos versos,
Conceitos que alegam a futilidade feminina?

Que digam os americanos do Norte,
semidonos de uma realidade,
projetada em longas metragens,
repletos de heroísmo,
em um mundo fictício.
Onde os lema são:
O mal destruir
Mas da realidade, pelas telas, fugir.
Quanto ao medonho terror?
combateremos até aniquilá-lo.
Quanto ao clemente amor?
Ignoraremos até conformá-lo;
Conformá-lo a quietinho ficar
na realidade Holiwoodiana.
E não adiantar chamar da Califórnia o governador
que, muitas vezes, na tela, o mundo salvou.
Pois nem ele é capaz, de exterminar o futuro sombrio
que o lema traçou.

Que nas telas se faça cultura.
E não nos tragam a loucura de viver o que não nos é próprio,
o que não existe, o que só acentua o nosso opróbrio.