Não confiem em mim as vossas crianças,
porque as quero demais. E elas, gostam
bué de mim. Por isso, as esperanças
de se tornarem autómatos, encontram
no meu amor, diferentes ordenanças!
O que de mim esperam e me confiam,
é que podem crescer como ser pensante,
e não apenas, meninos amén! Ante
 
tamanha visão, o pai fica com medo
e a mãe também! Querem o menino bem
comportado e pouco suado. Quedo!
Eu quero o menino cansado. Também
sujo, amassando a terra, sem medo
de sujar  o bibe, que  o mantém preso,
limpo,  e posto em sossego, crescendo
 para ser rico e famoso, vencendo
 
a qualquer preço. Eu quero o menino,
que me diga Não, quando dele for a razão!
E quando a não tem, perceba com siso
que na vida,  por vezes, há que ouvir Não,
quando se deseja ouvir, Sim! Com tino
e muita firmeza,  entende a razão
da minha dureza! Dela, tira lição,
ouvindo Sim ou Não, sem birra de chorão!



Não confiem em mim o vosso rebento!
Porque o quero com as calças rasgadas
nos joelhos. Não por moda do momento,
mas, pelo tropeção, nas fugas suadas
aos guardas e ladrões, brincando ao vento
à chuva, ao frio e calor, cansadas,
correndo, aprendendo a crescer com dor,
esfolando um joelho, coisa menor,
 
sem valor, quando aparecer dor maior!
Eu quero, que a nossa criança, seja
menino a tempo inteiro! Com amor!
Que antes da hora, adulto não seja.
Aos seis, menino eu veja e não doutor,
porque se assim não for, aos dez, carrega
peso maior no seu corpo de criança
e aos 13,  a droga será herança!
 
Eu quero os nossos pequenos, brincando!
Aprendendo, brincando, sujos, zangados,
inimigos, enamorados, brincando.
E uma vez por outra, examinados,
botando faladura,  maravilhando
com o seu  crescer,  o pai, admirado.
O meu menino é um génio, dirá
fascinado. O meu puto, Homem será!
 
 
 
 
 
 
 

 

santos silva
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