DEZ POEMETOS DE AMOR


- I -
Já que tenho que te doer
Seja eu o tigre implacável
Aquele que, beijando-te,
Espedaçará teu rosto,
Que, tomando-te,
Arrancará tuas tripas
E que, amando-te,
Matar-te-ás por teu gosto.


- II -
Suporta a crua mágoa
E os destemperos da minha carne
Bem sei o que te salga
Provoca em ti o mesmo alarde
Que em minha derme calada amarga...
Afasta as intervenções da dor covarde
Alforria de uma vez o que te embarga!


- III -
Permiti-me olhar a mim
Como se tu mesma o fizesses...

E não me desejei por teus olhos
E não te deleitei por minha imagem
E nem querer mais quis fitar-me...
Enjeitei-me, em ti, regalar-te

Desacolho de pretender-me
Pelo fustigo dos olhos teus!
Tamanha a indiferença em ti
Pela fieza de não acarar-me...


- IV -
Apego-me à coragem constante
Para rejeitar, com arte, tua imagem...

...Queima-me os olhos de fogo selvagem
Flamejando-me deste sondar-te desconcertante!


- V -
A dor de amor se esgoela
Porque não se enxerga absurda
Desnudada, é empacada mula
Aos corações incultos
Que dispensam controlar
Os batimentos caducados
Deseducados pelos ritmos
Destes bestalhões apaixonados...
- À dor de amor não cabem algoritmos -


- VI -
O gosto dum beijo teu
Reascendeu minha lôbrega boca
E teus lábios nem ancoravam os meus...
Dei-me conta da desdita mouca...

... E uma recidiva lágrima salgada
Rasou minha face eremita,
Mareando a língua lassa
A velejar, intacta, a calmaria
Do oceano da tua falta...


- VII -
Passa ao largo do sono
Sai inconfidente ao luar
Despista-te do abandono
Ou a noite piche vai te pichar
Não possuis rumo ou dono...
Arrumes um amor para amar
Que a lua paga-te abono


- VIII -
Tua ausência incorporou-se a mim...
Desabrolhou carne do meu ventre
Doravante juntos em una viagem,
Vigora e arde, algoz, em posta ebuliente

Minhas íris fenderam-se à tua imagem
Ai, tua ausência a cavar-me crateras,
Picadas no matagal selvagem das feras
Por donde meus amores interagem...


- IX -
Houve tempo de palavras
Tempo de gestos
Tempo de mágoas
Tempo de inabaláveis risos...
Ao fim, houve um tempo
Que serviu para nada...
Não subverta nosso passado
Pelas vias da saudade, minha cara...


- X -
Lembranças laceram-se em escaras...
Feridas descansadas, perfeitas
Para pormos o dedo da saudade nelas
E fazer sangrá-las sem vê-las
- Quem clama a dor, soca-lhe a cara -