Deserto
 
Se ouvires um clamor,
No deserto da vida,
Não sustes teu andar!
Não tremas de pavor,
Desta alma perdida
Num atroz sublimar.
 
Almas tão errantes,
d' ais tão lancinantes,
arrastam vilezas,
paixões e as tristezas,
da masmorra cruel
deste mundo, e o fel.
 
Negadas de amores,
Carnavais de flores,
Mistificam-s’ as dores.
Inebriam-se de carícias,
Excelentes perícias
Das amantes e malícias.
 
Definham. E o amor,
Assaz fome poética,
Desgostoso, morreu.
Submisso da dor,
Expressão patética,
No vazio se perdeu.
 
Se ouvires um clamor,
No deserto do amor,
Não dês atenção.
Não sintas tal dor
Deste sofredor
Que desdiz um não.

Triste Poeta
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