mendiga de baús de velharias
que habitam pequenas e grandes almas, sou eu.
garimpeira de pares de pensamentos,
diferentes, sem entrecruzar.

aprendiz dele, de dois lados,
duro, conquistador, despudorado,
buscando caminhos que estacionaram no passado,
nas damas de rara anunciação,
nas moradias de novidades.

pois é, ele é assim:

senhor de carro de pano acetinado, de Pávido animal,
acorreiado de sol, trilhado de pingentes
que dançam ao giro de estradas de pedras
brilhantes de sonho.

não tem jeito ! é assim:
a ampulheta findou, não existem mais personagens,
que representem longas peças e comédias.
se é de cristal é quebrável.
se o desejam, desejam devido à sua história,
que não teve, e se teve não perdeu horas em escrever.
e se teve, esqueceu mas não admite.

plumei por ele, tentou segurar minhas asas,
mas me prendi por entre as primeiras folhas do jardim
que não brota mais os grandes cantos.

não deseja pena, nem ser mandado.

é assim e assim foi feito quando criança
pelo anjo que vem de tempos em tempos,
que não admite a gente cometer equívocos.
e toda sua estrada foi equívocos. perdeu a alma neles.

neste tempo caminha de garrafa em garrafa
e ouve longíncuas falas que dizem:
- olha homem, não vá passar dessa
prá outra, como seu antepassado.
afundado e embriagado na tuia de licor de uva.

e o passado ri no seu costado,
quer faça alguma coisa, quer não faça,
quer aprecie ou não aprecie.

foi assim, assistindo ao pulo prá morte
que refletiu um tempo:
tal gerador, tal geradora, ou antepassados.
vai também, engarrafado de tempo, prá rir e chorar.
coitado do antepassado, morto, desesperançado,
numa antiga e silenciosa tuia de solitude.

e por se achar senhor de sua solitude,
ele também se cobre de raízes de uva pura,
que não limpam o interior, mas entontecem um passado,
onde a solitude de vida tem sua anunciação
e a busca desenfreada o seu profundo sentimento.

Maria
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