Estou sem sono, porém, acamada,
estou viva, porém, morrendo.
Estou passando por um canto de mim mesma muito vertiginoso,
exuberante e imbecil.
Estou querendo alguma coisa que não me lembre o belo,
o inesquecível.
Estou aborrecendo a qualquer um que se aproxime,
que não se explique, que não se expresse.
Estou fugindo de um sentimento latente,
dessa dor pungente que me tira o bom sabor da vida.
Estou sufocando; Mas agora está tudo bem,
essa camisola salvou meu dia.
Continuo sufocando, não é de fora, é por dentro.
Não sei se quero ir, mas também não estou certa de que quero ficar.
Não sei se está me faltando um amigo, alguém bem querido.
Eu vou morrer daqui a pouco, eu sei disso,
por isso, eu preciso deixar isso,
não dá mais pra disfarçar,
existe algo na minha garganta,
duas odiosas mãos que me sufocam, eu sinto isso,
é por isso que ando buscando tantos perdões,
é por isso que eu me dei ao luxo de amar pela ultima vez,
é por isso que meus amigos ficaram tão fortes de repente,
pra suportarem os dias que seguirão em minha ausência.
Estão me levando e é impossível me enganar do contrário.
Os fantasmas são cada vez mais reais,
estão cada vez mais nítidos, e me enforcam com um prazer diabólico.
Estou sem fé, e não vou busca-la agora,
assim como também não há mais um Deus e
tão pouco o seguirei tão tarde,
não exatamente pelo fato de ser tarde.
Eu preciso extinguir todas as minhas tolas reflexões,
com esperança de alcançar uma mera leveza...
Estou travando, e já sinto o fúnebre aroma disso que me envolve.
Ah, como eu queria me enganar pela ultima vez,
só dessa vez, acreditar no que minha mãe me diz,
e no silêncio acalante de meus amigos!
Não sinto mais prazer em dormir, tanto em sonho como em realidade,
está tudo num tom sepulcral.
Não é o medo que me cala,
é o romantismo de todas as lembranças que me vem à tona,
É o declínio de umas curtas sensações, de uns ecos,
de uns amores tão ocos.
Mas o que eu posso fazer?
Posso até dizer a quantidade dos passos que ainda me restam...
E não são quase nada!
Eles tentam me levar todos os dias, é verdade,
guiam-me por caminhos que jamais saberia voltar,
eles estão ao meu redor, é realmente assustador,
e tudo isso ocorre em sonhos, e está cada vez mais pesado,
cada dia que passa a estrada fica mais abstrata
e o meu corpo sente-se tão...
Sem conexão, sinto-me cada dia mais distante,
já é tão tarde e não sei o que pode ser pior,
ir dormir ou continuar aqui,
com esses espectros maldizendo-me,
roçando-se em mim.
Mas eu ainda acredito em amor,
e ele há de me proteger de alguma forma.

Em casa, 12/04/05