MINHA RUA

Rua amada
Jamais esquecida
Onde vivi,
A infância, a adolescência
E até bem pouco vivi.
Rua querida
De frondosas mangubeiras
Para as brincadeiras do meio dia,
Que serviam de escadas
Para olhadelas  nos quintais
De velhas bisbilhoteiras e rabugentas
Que diziam tantas asneiras
Mas que era também bondosas.
Rua gostosa
De largas calçadas
Para o jogo de bola na sombra da tarde
Rua cúmplice
Dos meus erros, dos meus anseios
Dos meus desejos reprimidos
De amores conflitantes,
De fofoqueiras e desejosas vizinhas
De olhares confusos sobre a gente
De mulheres comprometidas,
De Madalenas arrependidas
Verônicas interesseiras
E hipócritas samaritanas
Que tentavam com o olhar de fogo...
E repeliam com um sorriso de gelo...
Rua de segredos...
Mas...sem segredos...
De amores censurados
E garotas palpitantes.
Lá está minha casa...
Que abrigou meus primeiros sonhos
Sufocou meus desejos,
Anseios e desilusões
Minhas saudades primeiras
Suspiros de solidão!
Que abafava meus passos
Quando retornava altas horas das noites
Das serenatas perdidas,
No regaço do tempo
Que já não volta!...
Lá viviam amigas

E coleguinhas volúveis
Que se deixavam abraçar
Na primeira declaração
De cheiros fortes nos dias quentes
De solidão cortante nas noites chuvosas,
Rua bonita,
De areias brancas
De tantos encantos nas noites de luar
De areias escaldantes
Pelo sol do verão.
Quero-te Rua
De mistérios... De nada...
De imaginação cantante
Palpitante de vida,
De luz, de sonhos, de saudades
De ilusões perdidas,
De amores proibidos,
De gritos sufocados...
De versos não cantados
De planos desfeitos
De serenatas gostosas,
Que despertavam suspiros
Ocultos nas janelas iluminadas
Fáceis de entrar
De esquinas sombrias
E coqueiros nos quintais
Assombrações nos becos
Tentações nas janelas iluminadas
Pelos candeeiros do tempo
De querosene ou azeite
Coração frio de minha cidade
Rua poética
Que tanto amor me inspira
Tão difícil de esquecer!...