Para Sempre Laura...

Eu sou o nó da garganta
O dito que nada significa
O sangue mal estancado da ferida
A água que não mata a sede, fictícia.
Eu sou a falta de cuidado dos pais para com os filhos,
Sou o país naufragado e fabuloso.
Sou o osso que a Bela Mulher tocou com seus dedos,
Sou a vítima daquele sorriso dado por ela há tempos atrás.
Sou o vício que ela me entristece por não ter.
Sou a bossa nova, o rock'n'roll que ela cantou,
Sou o ar que ela expirou,
Sou o ar que ela recusa aspirar.
Eu sou o riso danado, cheio de graça que dela escapou,
Sou todas as melodias que ela me lembrou quando tocou.
Eu sou a imundície daquele chão, que se enaltece por sentir pés tão preciosos.
Eu sou o céu azul e aquela ponte, acolhendo nós duas.
Eu sou a vantagem que ela não tira.
A luz que ela deixa ir embora sem abraço.
Sou o cansaço que ela tem nas mãos.
Sou um tom, dois tons, dois tons e meio, mesmo que eu não decore direito.
Sou as palmas, o bumbo, o estralo, sou a bateria inteira, sem som nenhum.
Sou o Sol fora do tom, o Si todo dolorido que eu não solto de minhas cordas vocais.
Eu sou o medo de agir, de persistir.
Eu sou as avenidas que ela percorre sem saber do nome. Sou todas as metáforas que ela puder imaginar.
Sou o piano que ela dedilha, terno e violento.
Eu sou o seu All Star vermelho.
Eu sou a tensão que ela deve sentir em algum lugar.
Eu sou algo inventado, feito pra gostar dela e ficar feito besta contemplando-a.
Eu sou os acordes que ela faz, mas que não vejo, por estar detrás, mergulhada na doçura de seus movimentos, em teu corpo majestoso, presunçoso, inventado pro meu desejo, afetado pela falta de receio, querer-lhe um beijo enquanto ela diz: “Tchau Ana”.

Em casa, 19/04/05