Tem dias que a vida pára
Ficam os olhares e corações congelados
E me projeto, me interiorizo
Vejo que nada valeu a pena
Enquanto páro para me olhar
Meu olhar é frio
A cidade obscura, crua e fria
Como uma melodia de agonia e dor
Pára meu dia, meu coração pára
Viver a vida... até quando?
Viver o outro... até quanto?
Me mata, me ressucita
Me envenena, me salva...
Tem dias que meu coração pára
E meu olhar sobre o outro muda
Esse outro ao meu lado, calado
Imunde, indiferente
Nessa cidade fria, nesse mundo estranho
Sou um Eu perdido entre tantos
E vivo, para me aceitar e me recusar
Tornar o outro, uma exceção de mim
Realmente, tem dias que me calo
E me receio de voltar a falar
Soltar entre verbos o que sou
Um ser que é Eu, e não-Eu
Uma dúbia intepretação de mim mesma
Tem dia, que a vida continua
E me esqueço, e sigo o fluxo
Das vidas tortas e obscuras
Das linhas tortas e trens perdidos
De erros e acertos escondidos
Sigo, e esqueço que um dia parou
Continuo ignorando o silêncio do outro
E ouço o meu próprio, e aceito.
 

Paloma Andrade
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