Que o negror dos meus olhos
Não vejam nunca
A imensidão do abismo
Em meu ser irreconhecível.

Ouço vozes que se movem
Como arautos da tempestade.

Melhor se eu fosse como os porcos
Com suas bêbadas visagens
Que ficar num porto árido
De navios incompreensíveis.

No hálito negro da noite
Os sonhos impossíveis.

Gasto meu tempo
Como um sapato gasto,
Por dentro batem-me as solas
E assolam-me os passos em mim.

Noite sem fim,manhã descalça,
Procuro minha sombra no muro.

Devagar a divagar
Lentamente entre a mente e o real,
Como um cão no deserto
Morto de sede e fome,

Só o instinto me guia.

 

Gilberto de Carvalho
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