o falar silenciado e palavras controladas
análise das canções mensagens cifradas
entremeio das notícias e falas truncadas

texto escrito relido reflexivo contido
dos sussurros de prisões hediondas
vivia-se espremia-se desconfiava-se

salas de aulas nada além das matérias
nos incultiam maravilhas verde-amarelas
disciplinas mantra da subserviência

greve anomalia social passível de subversão
generais e vozes pastosas olivas uniformes
paradas militares dias cívicos e obrigatórios

assim seguia meu País sob baionetas e fuzis
gerações atrofiadas silenciadas bestializadas
nos bancos escolares o bê a bá das censuras

realidades fabricadas manietada a imprensa
artistas,operários,marias,josés,putas, todos
viviam sob o guante da força bruta instalada

pouco se falava menos se escrevia
ruas casas teatros bares e escolas
medo nos dominava e enceguecia

se alguém soube demais ousou dizer
ninguém mais sabia aonde ele estava
e tudo era medonho tristonho militar

livros duplas capas
ocultos e suspeitos
leituras e segredos

terríveis hipocrísias funestos tempos ira
a nação esvaía-se esbaldava falsa moral
orgias e saques (c)omissões consentidas

sejam sepultados tiranos de todas as épocas
no estrito cumprimento de suas atrocidades
negam justiça,alheios à paz aniquilam vidas...

Nesta semana da pátria, republico este poema, trazendo à lembrança gerações reprimidas, na neura da defesa da liberdade com a supressão da mesma, nas torpezas próprias de qualquer sistema totalitário... A ditadura brasileira ceifou vidas, censurou a imprensa, cassou mandatos eletivos e promoveu o terror de um Estado desprovido de liberdades e sem os direitos individuais ( habeas-corpus, direito de defesa, etc). Foi sinistra para gerações de jovens, maculou os movimentos culturais e tisnou a Nação sujeita ao silêncio dos fuzis e baionetas...