Folha de papel em branco

Sempre gostei de digramas, fonemas e pentagramas
As folhas de papel bem desenhadas e coloridas
Eram as minhas preferidas
Hoje depararo-me diante de uma folha de papel totalmente branca
Nela posso fazer o que quiser...
Um desenho ou um poema

Uma folha de papel em branco
Hoje é isto que quero ser
Um desenho imaginário passa-me e não o reproduzo
Propositadamente não o faço, pois o papel em minha frente
Branco e sem nada é inusitadamente diferente

Antigamente, imeditamente ele estaria preenchido
Hoje paro para olhar a sua alvura, simetria ,
Imensidão profunda de algo totalmente puro, imaculado
Imagino um poema, tento escrever , mas não o faço
Quero aquela página assim, fininha no espaço

De repente vem um vendaval
Traz a areia lá do quintal
Passa pela mesa e minha folha voa, voa
Deixo-a livre a mercê da natureza
Ela poderia estar desenhada ou escrita
Pouco importa, não é minha mais
Voa pela janela , destinada a outros quintais

Quem sabe alguém a ache
E a trate com dignidade delicadeza
Dada a sua leveza
Pode se transformar em tudo
Qualquer parte da natureza

Mas um pouco de mim também se foi
O meu perfume, as minha digitais
A minha imaginação e outros que tais
Uma folha em branco é muito mais
Sou eu por inteira , solta nos vendavais
Pousarei a sombra do cajueiro
Que plantei e o vi crescer por inteiro

Em uma folha em branco existe uma alma
Deitada debaixo daquelas folhas deixadas pelo outono
Inerte, estagnada e só
Com um destino certeiro, e evidente
Um dia se tornará pó.

No pó não se desenha e em se faz poema
São partículas, nada ridículas, mas o pó vai além
Em um sopro ele se espalha, livre no ar a pairar
E minha alma ficará no primeiro em que passar.
 

 

Rosana Bonsi Theodoro Capotorto
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