Inacreditável, insólito,impossível
Tratamento de choque, sem opção
Intrinsecamente, tétrica sem emoção
Estatelada , arregalada e sem sentido
Aquilo que achava está perdido
O nexo causal é irrelevante
Completamente distante
Lá ao longe no arrebol
Roxo azulado
Um dia sem sol
Acompanhando de olhar fugidio
Fora, transparente, se converte
Quando a minha pele se inverte
Introspectiva como um ouriço
Deixo-me arrebatar, cansada espreguiço
Ouriço é mais do que eu
Pois tem carapaça, intocável
Sem sentido, nem medida, imune aos carinhos
Sinto inveja dos seus espinhos
Do couro forte inquebrantável
Diferentemente
De pele fininha me fere primeiro
Que expõe por inteiro.
Gostaria de espetar, mas desisto
Me dói , eu serei a primeira vítima
Como primeira serei última
Me enlouquece, o estar sem estar
O ver sem enxergar
O andar sem sair
O ficar sem vir
Quero tudo do nada
O branco sem as cores
O perfume sem odores
Pétalas sem flores
Impossível rir sem estar contente
Conviver com a morte iminente
Dissimular o encarnado
Sem vida não existe nada
É esse nada que procuro
Eu sou assim
Absolutamente sem fim
Do pó exalado, inspirado, sem correntes
Livremente aprisionada
Num cárcere sem saídas e sem entradas
Sou palavras desencontradas
Uma coisa qualquer
Destilada, misturada e sem textura
Um pedaço, lancetado com um espinho
Como uma rosa rosa na neve,
No entanto por um instante
Enquanto o frio permanece
Deixo o meu molde
Sem perfume, quebradiça e inerte
Flor morta congelada
Deixem-me assim
Desarmada
Um molde na neve, que com o calor
Derrete e desaparece sem dor
Rosana Bonsi Theodoro Capotorto
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