Quando os homens constroem suas proprias prisoes

Tendo o homem acabado de construir seu muro já que esse homem como os demais precisava a cima de tudo preservar sua propriedade. Ainda assim não tinha dado conta que um muro só faz sentido ser construído e existir se for para preservar os costumes e as idéias de um povo ou da alma. Acontece que este homem já estava morto e não pesava fazia tempos e como sentia que algo estava errado, pois ainda era homem, achou que o melhor a se fazer era construir um muro e o fez.
Construiu ao seu redor paredes fortes de pedra dessas que ninguém consegue derrubar nem o tempo, não fez portas nem portões, e todas as pedras pesavam com a única finalidade de esconde-lo. Deixou, porém, uma fresta bem apertada onde guardou uma ultima garrafa de rum. Com uma pedra selou a fresta. Pronto sua ultima garrafa de bebida estava bem escondida ela que tinha sido seu único e verdadeiro amigo durante todos esse anos, essa garrafa, que nunca apontou seus defeitos nem o criticou, essa garrafa que pesava apenas para entorpece-lo e alegra-lo, essa garrafa sua maior propriedade e a única que restou, a única que interessava e que agora não poderia ser encontrada por nenhum homem e nenhum homem poderia tira-la dele.
Passados alguns dias o homem já sofrendo de solidão, dessa solidão tão pertinente aos homens que se trancam e se separam de tudo aquilo que amam. Dessa solidão que só sente aquele que constrói muros tão fortes que ninguém consegue penetrar uma solidão que sente todo aquele que se apega às coisas materiais. Esse homem então resolveu procurar sua garrafa exuma-la de seu mausoléu para lhe matar a saudades e alivia-lo da solidão.
Mas havia ocultado tão bem a fresta onde se encontrava a garrafa que não conseguia mais localiza-la, havia se esquecido que ele também era homem e como não havia deixado nenhuma marca a pedra que escondia a fresta pesava apenas para esconder a garrafa e manter-la longe de todo e qualquer homem que intensionasse possui-la e isso incluía a ele.. Sentou-se então a beira do muro, e já em desespero começou a chorar e chorou preso em sua solidão.
Suas lagrimas que eram lagrimas sinceras e que também era uma oração caiam no solo e da terra viu-se brotar uma mulher. Pois ao construir seu muro o homem impediu que o transcendessem pelo muro, mas esqueceu que da terra fértil às vezes brota a vida e nesse caso a vida era uma mulher. Ela que veio não se sabe de onde lhe questionou o porque das lagrimas, e ele que já envolto pelo delírio não estranhou sua presença lhe disse:
“Olhe esse muro! Eu o construí forte, bem forte, e foi para ninguém nunca mais me encontra. Oculto dentro dele está minha ultima garrafa de rum e está perdida, pois para acha-la seria necessário derrubar o muro. Acontece que agora não posso mais me embriagar e a embriagues era o que me dava tanto prazer. Mas agora desprovida da única razão de minha vida, (e ele ignorava que já estava morto, pois não podia amar mais nada além da sua garrafa perdida), só me resta sentar e chorar”.
A mulher comovida com a aflição desse homem teve vontade de abraça-lo e aquecer seu coração, mas não o fez. Porque a mulher era a garrafa de rum perdida dentro daquele muro e o homem era o muro e destruí-lo seria destruir a si mesmo e o muro era pura vaidade do homem e a vaidade é vazia e é uma ilusão.

r. von honer
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