que enlevo empresta
o poeta à narrativa,
que flana, desliza,
seu canto, no encanto que irradia,
sua branda e cálida poesia...
de sua janela vê a lua dúlcida
encoberta nas fuligens da cidade
e os miseráveis em bandos,
nas arruaças impertinentes,
nada o tira do fitar ausente...
e na indolência das visões belas
a crueza tisna-se das mazelas
e o bolor das coisas prútidas
se purifica em um alvo cetim
e no olhar solitário ele sorri
na distância de seus pensamentos
espirais de longas ausências
no torvelinho das cogitações
a vida malsã e crua
ganha luz e pinta multicores telas
e garimpa nos senões da realidade
docilidades ocultas aos apressados
e tecendo nas palavras sua lira
perfuma e clareia noites escuras...
na visão alvissareira
seu prisma, seu cantar,
ainda que triste,
inflama e eleva
nas suas dores
bálsamos lenientes
imagens surreais,
medonhas até,
tiradas sabe-se lá de onde,
enfeita de alegorias
as mais sentidas agruras
magias às pungentes desventuras...
...não quero dizer que o poeta, que se expressa com as palavras, seja alienado ao seu Meio, pelo contrário, é antes uma visão mais aguçada do que ocorre e, não raro, utiliza-se de seu talento para desnudar realidades cruas e trazê-las ao discernimento geral...mas ele sempre empresta E N C A N T O S à sua narrativa, talvez por vê-la com os olhos da matéria e senti-la com a alma...
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