Vai se ler na primeira página a história dos primeiros passos andados e amados
Logo à frente, na primeira curva da estrada vai procurar pelo tempo apressado
Ao passar por lá o tempo não parou e nunca pára, só a gente pára, mesmo não tendo curvas
Bom mesmo é que a memória grava tudo e as rugas mostram aquilo que o tempo não gravou
 
Na segunda página com letras de criança ficou bem gravado que o futuro seria perto e duro
Como de todos, é o preço que se paga por tudo de belo que sempre a vida permite a todos
Não precisa trocar as pilhas dos olhos, nem querer que suas meninas cresçam antes da hora
Nem trocar o cd do cérebro, ele vai gravar e mostrar tudo, sem nada reclamar, tudo de graça
 
Lá pelos doze vem a terceira página e tudo começa com a louca vontade do aprender tudo
Ânsia maluca de tudo fazer a qualquer preço, como se não houvesse muito tempo pela frente
Vai embolar doce com azedo, salgado com  sem sal,  bem amado com  mal amado e vai tocando
Escrevendo tudo hoje e que irá apagar amanhã, pouca coisa ficar na memória, melhor caderno
 
E assim vamos, fazendo um pouco a cada ano e a cada ano aprendendo e morrendo um pouco
Um passo para o futuro e um passo para o jardim desconhecido e mágico, até lá pelos trinta
É quando o tempo sem pressa torna a vida apressada e o caminho mais curto é o futuro certo
Depois dos trinta numa progressão louca se dá um passo à frente e dois pras bandas do “num sei onde”
 
Na última página, talvez mais tarde, quando o sol levar o dia pra traz da montanha
E a luz do dia for trocada pela beleza do escuro da noite fria e silenciosa, na cadeira vazia
Neste momento o milagre do tempo irá trocar a pele macia por rugas lindas, na cadeira vazia
Onde em cada curva outros vão ler tudo que escrevemos durante o dia, na cadeira vazia

 

Jose Machado Veríssimo
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