Naquele dia a criança acordou mais cedo
O pé de cerejeira no quintal anunciava fartura
E do céu veio o clarão, guiado pelo anjo da morte
E naquela manhã cinzenta a criança dormiu mais cedo
 
Naquela manhã o homem acordou mais cedo
Por costume foi trabalhar e nunca mais voltou
Sua mulher por costume ficou em casa, e ali ficou
Como todos os homens e todas as mulheres da região
 
Naquela manhã a morte veio do céu, nem Deus sabia
Mataram inocentes, que nunca morreram, morrem até hoje
Quantos não nasceram, ficaram calados dentro das mães frias
Aquela manhã nunca existiu, foi um louco que a tomou de Deus
 
Manhãs cinzentas de explosões que nada criaram, mataram
Pássaros de aço que levavam os homens de coração de ferro
Mudaram o destino do mundo, mudaram o leito dos oceanos
Queimaram a cama, a carne e a alma de um povo oriental
 
Esqueceram que somos um só corpo, uma só carne, uma só veia
Esqueceram que as pontes não podem ser destruídas, por elas passamos
Esqueceram que os continentes são torrões de terras perdidos entre águas
E as mágoas de um povo quando maltratado se espalham pelas águas e pelas terras.
 
Nunca mais “hiro-naga”.

 

Jose Machado Veríssimo
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