Uma verdade inconveniente

Uma verdade inconveniente

 
       É verdade que quem lhes escreve esse texto não conhece bem o mundo,

 
tampouco fez muita coisa para melhorá-lo, porém, posso compartilhar com todos a minha frustração.

 
       Após oito anos de serviço voluntário minucioso,

 
que além da arte abrangia valores humanos,

 
auto estima e concisa responsabilidade pelo próximo;

 
encontrei muitos fatos que podem chocar-lhes bastante.

 
       Tive alunas (digo no plural não só pelo tamanho do problema) que aos onze anos engravidaram do pai ou padrasto.

 
Aluno morto aos quinze anos por dívida de droga e até mesmo um que foi morto por policiais após esfaquear a namorada filha de sargento militar.

 
       Isso também não foi nada comparado com uma aluna que foi encontrada com outros três rapazes em uma cabine de som numa instituição pública cujo nome não seria apropriado citar. (tampouco seguro, creio eu)

 
 Mas o que mais me impressiona e entristece é a nossa maldita maneira de viver como se nada disso acontecesse no nosso planeta. Após trabalhar como orientador socioeducativo para o Sistema Único de Assistência Social (SUAS); percebi que valores tão bem estipulados no Estatuto da Criança e do Adolescente não são tão bem interpretados pelos cidadãos comuns. Pessoas

 
como eu e você, que não damos trocados no farol para a criança não “usar drogas” ou senão trabalhar para uma mãe gorda e negra sentada na esquina com as costas apoiadas no poste.

 
       Pessoas como eu e você que se encabula ao dizer a palavra “negro” para algum desconhecido, mas fecha a janela do carro ao encontrar um no semáforo.

 
       Pessoas como nós que assistimos ao noticiário como assistimos a uma novela, nos chocamos, nos emocionamos e até mesmo comentamos, sem saber que o que acontece também é um problema nosso.

 
       Seja pela ausência autopreservativa, ou seja, pelo medo de se colocar a par de um problema.

 
       Aqui em São Paulo, assim como no Rio de Janeiro, se instalou um poder paralelo. Facções facistas e abonadas de respaldo governamental. SIM, SÃO OS POLÍTICOS QUE VOCÊ ELEGE! Mas não faça de conta que está espantado, todo mundo sabe disso. Você que chama a polícia de “verme” acredite que só estamos com o crime nesse nível graças à polícia. Daqui a pouco vocês vão querer um disque PCC ou CV, é um absurdo!

 
       O policial deve fazer uma prova de admissão do estado para ser inserido na corporação, diferente dos analfabetos grotescos que se enaltecem por participar do crime organizado. Só quem já foi humilhado durante um assalto ou um roubo sabe do que eu estou falando.

 
       Tem também mais uma questão que humildemente darei o meu ponto de vista.

 
       Cresce cada dia mais a concorrência de mercado de igrejas evangélicas, SIM, CONCORRÊNCIA DE MERCADO! Já que lá dentro se manipulam milhões de fiéis que pagam e patrocinam o crime organizado. Disso eu posso falar com toda certeza, pois já tive que conhecer esse tipo de gente. Na Avenida Boturussu, no bairro de São Miguel encontrei 24 igrejas no raio de um quilômetro! Como tem gente boa por lá, quantas almas serão salvas... Quantos pastores ficarão ricos... Quanta ignorância!

 
       Por que somos constantemente julgados por eles? Julgar não é pecado?

 
Pastores são presos ao serem encontrados com dinheiro não declarado dentro da bíblia... Se a justiça de Deus é tão falha, pelo menos a norte americana é mais justa. Isso também sem citar a guerra no Oriente Médio para não estender mais o assunto.

 
       A igreja católica sim que é verdadeira! Após séculos de inquisição e enriquecimento desenfreado, está tomando do próprio veneno.

 
       A igreja é terminantemente contra o preservativo, o aborto, o anticoncepcional, enfim, contra a deliciosa libidinagem. Como eles são certinhos... Com exceção dos padres pedófilos e desarranjados que se encontram por aí. Desculpas ao Dom Helder Câmara, que creio eu, também devia estar envergonhado.

 
       Chegamos onde eu queria chegar: depois de falar sobre a polícia, a igreja, facções criminosas e crianças sem sorte... O Decálogo!

 
       O decálogo foram os dez mandamentos escritos por deus em duas tábuas de pedra e entregues ao arqueólogo Moisés que deve tê-las usadas como tampo de mesa.

 
       Cá estou eu quebrando o nono mandamento “Não levantarás falso testemunho contra o próximo... Será?”.

 
       Não Matarás, não furtarás, etc.

 
       Vocês sabiam que no nosso país de terceiro mundo não existe algum controle de natalidade? E que mães massacradas e violadas, submissas – assim como prevê a igreja católica- têm sido mães cada vez mais cedo? Mulheres desempregadas com quatro filhos, todos de pais diferentes. Algumas que precisam de tratamento psiquiátrico ou usuárias de drogas que não se previnem de alguma maneira contraceptiva. Será que elas estão do lado da igreja e contra o preservativo?

 
       De maneira alguma eu estou culpando as mulheres. Elas sim são as mais machucadas nessa guerra de valores, pois não possuem voz ativa.

 
       Conheci mulheres que disseram: -Sou contra o aborto! E após engravidarem davam os seus filhos para qualquer instituição que cuida de menores. Que fique bem claro que todas as mulheres tem o direito de serem mães, mas todas as crianças têm direito a uma infância feliz, com estabilidade e segurança. E não é o que acontece...

 
       Mulheres que batem nos filhos ou entregam as filhas aos abusos por parte dos pais alcoólatras, até mesmo da prostituição.

 
       Pelo número de crianças que nascem em famílias monoparentais, cujo sentido cartográfico seja de extremo risco e o governo fecha os olhos diante disso, acabamos então com uma fábrica de marginais.

 
       Fábrica que é apoiada na ignorância do povo e facilmente manipulada pelos religiosos que pregam o “bem” à população. Logo, a culpa da violência é a ignorância do próprio povo que a julga.

 
       Mais cultura e educação para todos – Se deus permitir- e o tempo ensinar.

 
       Que fique bem claro que eu não sou facista, nem racista e muito menos falso moralista. Faço a minha parte e a de muitos “ocupados” por aí. Com a esperança de crianças com a vista menos brumada pelo futuro que lhes escorrem pelos dedos.

 
                           Daniel Lellis Siqueira