EU DESEJO UMA VIAGEM SERENA Á MINHA AVÓ

                        (EM MEMÓRIA DE BEATRIZ BARBOSA MENEZES,


 
                 MINHA AVÓ BEATA)


 
 


 
 


 
Caso haja chegado o momento,


 
Eu desejo que a senhora parta serena e sem padecimento:


 
Impiedosa, a vida já lhe impôs


 
Muitos flagelos e descontentamentos.


 
 


 
 


 
Como fora abnegada:


 
Privava-se dos alimentos


 
Para que a seus filhos


 
Não faltasse nada. 


 
 


 
 


 
Como fora abnegada:


 
Com a muralha do pesar


 
Sobre suas costas,


 
Por ter perdido sua primogênita


 
Princesa de Ébano,


 
Ajudara a cuidar da prole desta,


 
Recebendo como recompensa


 
A rosa da ingratidão


 
Mais seca, mais perniciosa e mais pérfida!


 
 


 
 


 
Amara hermeticamente


 
Habitantes do planeta dos vórtices violentos:


 
Um prisioneiro da bebida


 
E um escravo do ígneo temperamento;


 
Perdera-os para seus destinos turbulentos.


 
 


 
 


 
 


 
 


 
 


 
Sempre tivera de trilhar a alameda de Caetana:


 
Testmunhara o crepuscular da luz dos pais;


 
O crepuscular da luz dos seus irmãos;


 
O crepuscular da luz da sua primeira filha;


 
Encontrando na mais nova


 
A estrada para uma existência,


 
Apesar das dolências emocional e física,


 
Um pouco mais duradoura, leniente, tranqüila!


 
 


 
 


 
Aqui, sentado sobre o divã dos meus pensamentos,


 
Contemplo a constelação das estrelas


 
Da glória, da imponência, da grandeza e do orgulho


 
Pairarem sobre o seu firmamento de sentinela da labuta:


 
A quituteira, a lavadeira, a engomadeira,


 
A fibrosa e teimosa mulher guerreira,


 
Todas a formar o mais majestoso sol da decência.  


 
 


 
 


 
 


 
Caso haja chegado o momento,


 
Vá serena e em paz,


 
Filha da nação dos bantos.


 
Vá em paz e serena,


 
Minha Jóia Pequena!


 
 


 
 


 
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA


 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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