Não soube lhe amar.

 
Não nos relacionávamos direito,
A conversa foi sempre sem jeito,
Carregada de muitos defeitos,
Que eu e ele, tínhamos demais.
 
Tentei amar-lhe o que pude.
Mas ele, que era meio rude,
E eu, criança jogando gude,
Já me sentindo rapaz.
 
Pra chamar sua atenção, fiz tolice.
Gritei, xinguei, pra que ouvisse,
Mas ele calado, nada me disse,
Aumentando a raiva do revoltado.
 
Continuei então reclamando,
Meu pai, em pé me olhando,
Impenetrável, no que estava pensando,
E indecifrável, no rosto cansado.
 
Nunca mais voltei a sua casa.
Voei, ainda nascendo asa,
O ódio no peito em brasa,
Do jeito estúpido, que o tolo faz.
 
Meus irmãos me ligaram um dia,
Dizendo que ele sofria,
Terrível doença e pedia,
Que eu voltasse atrás.
 
Então me fiz regressar,
E voltei para lhe falar,
O quanto queria lhe amar,
O quanto eu estava sofrendo.
 
Segurei-lhe a fina mão,
Pai, eu nunca tive razão,
E voltei, para pedir-lhe perdão,
Mas ele estava morrendo.
 
Meu coração se partiu,
O desespero surgiu,
Chamei-o, mas não me ouviu.
Meu pai, havia morrido.
 
Eu gritei que não era verdade,
Falei que era maldade,
Mas a dura realidade,
Era que eu, o havia perdido.

Pai, eu sempre quis lhe amar.

Santa Cruz Cabrália 05/01/2009

Lannes Alves de Almeida
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