Rio... cidade, mulher e dor!

Rio... cidade, mulher e dor!

Verão à vista!...
Brada a gávea em lirismo.
Ei-la! Um Rio, uma paixão, uma poesia!
Cálidas águas preparam o batismo
Alegria!... Alegria!
Paraíso à vista!
Entranha o lenho deslumbrante vereda.
Desvirginizada a cortesã em conquista!
Alegria!... Alegria!... Alegria!
Desde o Tejo, faro mal soprava da nave a crista.
Bendita estia.

Ornada de esmeralda olorosa
Ei-la, donzela infante,
Curvilínea, suave, menina dengosa!
De além Índias bonança guardada,
Lendária Ara leitosa.
Fonte restauradora, de errante esquadra,
Pungente, orante!
Déia verdejante!
Os beijos das ondas, a enaltecer-lhe a nobreza,
De Netuno aceno insinuante.
Desnuda, se lhe oferece no mar sua pureza.

Desposam-na poetas e sonhadores!
Ei-la, encantadora musa das penas,
Repousa debutante, cingida de arco-íres, sobre andores.
Batuques, árias e rendidas cantilenas,
Cortejos de muitos amores!
Grávido de maresia o calor a encerra
Suaves, jorram caricias do horizonte;
Em socorro, sopra aos montes, ares da serra!
Iemanjá em abraço a acalanta e acalma
Por oferenda, envolta em rendas, beija sua alma.

Madona amorosa, agasalha quem da maré nasceu.
Ei-la, aia de colo quente, de ubre farto.
De outro ninho surge mais um que não é seu
De alhures, de outro parto.
E outra, e outro... livres, escravos, a rir ou a chorar
Amamenta a todos e todas, entram e saem anos.
Usam seus seios, infectam seus veios
A gargalhar.
Em paga: sevícias, mágoas, desenganos!

Toma a avenida, bailado profano, bêbada de fantasia.
Ei-la, alegria, alegria!...
Sou Esperança! Acredita, grita na praça
Esquece a dor, as feridas, se entrega à folia.
Toda fé na redenção que do alto a abraça!

Manito O Nato

13/10/2008.

Rio de Janeiro! Uma terra amada desde o primeiro olhar. Cidade cantada em verso e prosa, de beleza impar. Tratada com despudorado utilitarismo, vilipendiada por seus próprios filhos, de sangue ou de leite, saqueada em sua mesa e em seu encanto, continua linda!