Eu falo sempre de paixão e isto me corrói
Eu falo sempre de amor e isto me machuca bastante
Invento frases insensíveis e isto me distroi
Para que falar de coisas tão repugnantes?
Para que falar de amor?
Se os elementos químicos que nos formam são universais?
Onde estão tais, com o seu poder?
Pois num simples palpitar me satisfaz.
Eu falarei então o que é o infinito
Falarei então o que é a dor
Somente não te pedirei desculpas
E não te falarei de amor.
Apenas murmurarei frases incertas
Apenas explicar-lhe-ei cenas complexas
Se este carinho é bom demais
Amarei a palavra mais audaz.
Para que falar de amor, se o amor é tão subjetivo?
Para que falar de amor, se amar em si é proibido?
Se o fruto que consumirei for carnívoro
Ou se teus olhos me olharem sem nenhum objetivo?
Mas para que falar de amor, se amar demais foi o meu erro?
Mas para que falar de amor, se o que eu amo é o desespero?
Se a sua intenção foi hostil demais
E se o nada me satisfaz, para que falar de amor?
Eu sempre falei de paixão e isto me corroía
Eu sempre falei de amor e isto me fez enlouquecer
Mas agora eu sei que para não falar de amor
Eu tenho de lembrar de amores que não fui capaz de esquecer.
Salvador
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