Da memória do que somos

Fui menino,
dez reis de gente,
devagar, devagarinho,
fui crescento com leitinho do presente,
que me preparou para o futuro,
que faz o passado!
Fortaleci minhas raízes,
Engrossei meu tronco, dei frutos,
Tornei outros felizes!
Da memória do que sou
Conservo do que tenho sido,
A qualquer lado que vou,
Levo muito comigo!
Levo o homem menino,
Levo o homem criança,
Levo o timorato, o forte e o fraco,
Levo a esperança,
E sinto-me grão d’areia no deserto!
Espanto-me com o fora de mim,
Sinto-me rajada de tempestade,
Raio de claridade,
Silêncio ou toque de clarim!
Sinto-me que de alguém sou glória,
Mas não perguntem da minha memória,
Porque eu ainda não me entendo,
Não sei ainda o que sou,
Só vós é que vêdes,
É que sabeis o que vou sendo!
Eu ainda estou no presente
E o futuro ainda me espera,
Até que chegue, finalmente:
“O Figas já não é,...já era!”
Acabando-se a história da memória!

Silvino Taveira Machado Figueiredo
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