Choro Pela Minha Araucária

Imponente e majestosa
Cercada por todos os lados
Ali nasceu e cresceu
Vivia com grande orgulho
Não havia barulho
Apenas o cantarolar agitado
Daqueles que vinham se abrigar
Nos seus galhos a se aninhar

Grande! Uma das mais belas da floresta
Onde a natureza faz a festa
Onde tudo é natural
Onde o rio alimenta seu regaço
Num laço eterno fraternal
Daquele que tem muito cuidado
Que trata bem e nunca faz mal

Certamente a harmonia profunda
Das matas a florescer
De tudo que se cria é belo
Um forte e supremo elo
Ligado a mim e a você
Plantas que me alimentam
Curam-me, quando eu adoecer.

É uma bela visão!
Da imponência deste vegetal
Que permanece onde está
Nunca e jamais fará mal
Cresce com toda inocência
Da vida em seu curso normal
Mais de súbito é tomada de surpresa
Por uma serra fatal

Que sem dó nem piedade
Ataca como um feroz animal
Seu tronco sem defesa alguma
Ainda sem saber o que há
Ali exposto fecundo
Recebe a maior dor do mundo
Aplicado um golpe fatal
Que mata aquele vegetal

Tombado, doendo, agonizando.
Exposto com seus galhos no ar
Chora, clama pedindo.
Mas implacável exige sem dó
A lâmina cai sobre si
Diversos são os golpes iminentes
Tirando lhe a vida aos poucos
Da minha floresta inocente

Tombada sem nada fazer
Isto em questão de minutos
Aquilo que levou anos
Para ficar tão bonito
Mas a crueldade do homem
Que sem amor, sem dó, com certeza.
Exibe seu troféu mais precioso
Destruindo a nossa natureza

Lá vai ela carregada
O meu mais belo patrimônio
Minha araucária querida
Agora só te verei em sonho
Antes tu existias
Agora não te vejo mais
Somente em retratos tirados
Ou nos filmes e vídeos virtuais

Foste assassinada
Por questões meramente legais
Daqueles que vivem os desmandos
Sempre arbitrando por trás
Não vêem que tudo se acaba
Que esta é a forma errada
Um dia faltarão nossas matas
E não teremos mais casa

Minha araucária querida
Tenho-te imortalizada
Na mente e nos meus sonhos
Ou quem sabe aqui dentro de casa
Na forma de um móvel ridículo
Que pouco me vale pra nada
Quiseras tu vivesses até hoje!
Na floresta onde fora criada...


Salvador, 16 de dezembro de 2002;
Às 12:44horas
Felício Pantoja Campos da Silva Junior

"Somos os únicos seres que tem o prazer no ridículo ato da destruição."

Salvador - Bahia

Felício Pantoja Campos da Silva Junior
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