Quis escrever o poema mais estranho
O mais realista e mais triste
Durante esta longa madrugada
Mas a caneta caiu-me da mão.
Quis escrever um nome
Soletrar todas as suas letras
Senti enorme vontade de o fazer
Mas a caneta caiu-me da mão.
Quis escrever sobre isolamento
Sobre despatriados, deslocados
Que não estão, nem aqui nem ali
Mas a caneta caiu-me da mão.
Quis escrever sobre mim
Emoções, razões, negações
Pensamentos, interrogações, pesar
Mas a caneta caiu-me da mão.
Quis escrever sobre a verdade
Aquela que se diz olhos nos olhos
E que é tão rara nos dias de hoje
Mas a caneta caiu-me da mão.
Quis, enfim, escrever qualquer coisa
Que o meu raciocínio não concebeu
Não encontrou uma forma de o fazer
E dei com a caneta caída no chão.
Lisboa
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