Anômalos
 
Jessikha Todt
 
Me revolta a falta de ação,
Então lhe entrego a faca e peço que corte minhas mãos.
O sangue que suja não voltará às veias.
As veias secam.
Nada se altera.
 
As mãos apodrecem na calçada.
O fedor entorpece.
A náusea beira a alucinação.
Os que passam fingem não sentir,
E os que sentem parecem que não passam por ali.
Nada se altera.
 
O tempo faz desaparecer a carne.  
Os vermes se transformam em lindas moscas, e voam até outros mortos.
Os restos, os ossos, são arrastados pelos vira-latas.
São brinquedos dos cãezinhos famintos,
Que roem os últimos vestígios,
E para sempre esquecidos.
Nada se altera.
 
Um corpo sem mãos caminha.
As veias secas.
A boca muda,
Que grita por onde passa com a voz do silêncio que acusa,
Os mutantes sem ouvidos,
Os mutantes sem olhos,
Que caminham com as mãos intactas nos pulsos.
As veias inchadas de vermelho.
Mutantes possuem muitas veias.
Todas prontas para explodir.
A hipocrisia famélica rondando,
Amimando os mutantes envelhecidos,
Que lembram alegremente do passado longínquo
E esperam ansiosamente por um futuro imprevisto.
Nada se altera. 
 

Jaraguá do Sul, SC

Jessikha Todt
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