Ela dançava, louca, sob a luz da lua.
Se balançava, nua, brincando no passeio: a voz rouca, o devaneio, a dança profana, a mão no seio, no céu, no sexo, no (uni)verso, e o bailado sem nexo, reverso, pinel, incongruente... Sozinha na madrugada confidente, era rainha e bruxa da libido incontinente, encantada; era a fúria de uma lascívia casta e inofensiva. Mulher feita, mulher gasta, meio menina, meio miss, e a dança (im)perfeita da infeliz compunha sua própria trilha sonora: "o (des)amor está no ar." Está lá fora, em quem passar e observar; mas ninguém passava àquela hora, e ela aproveitava no passo torto, na dança insana, no olhar absorto, na noite sólida que emana a sedução bucólica, a fascinação. Tudo era palco e canção, e ela dançava sem regra a batida do seu coração. Perdida no seu rebolado firme, cometia todos os crimes na impunidade do pensamento, e a (feli)cidade dormia, e só o cimento e o concreto liam a poesia da moça fora de si. Perto dali, por certo, logo o sol sorriria; mas por ora quem brilhava com força era a luz invisível da paixão que virava dança incansável, invencível, insaciável. Ela dançou a (des)esperança a noite toda, e riu e chorou feito criança. Deu um suspiro (pro)fundo de encher o peito, mais dois passinhos pelo caminho; depois, achou um pano imundo, se meteu nele e foi deitando, e convulsionou, e foi apagando, e estremeceu desenhando um fatal sintoma melancólico...
E morreu em coma alcoólico.
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