Quando dei por mim, já estava preso... A cadeia sem fim de compromissos exerceu seu peso, e eu que pensava que ia sair ileso fui pego no feitiço lendário do "só mais um" (coração otário = alma escrava = descanso nenhum). A obrigação, o horário, a agenda me atordoaram e só deixaram ecoando um zunzunzum que não há quem entenda, uma correria tremenda que não leva a lugar algum.
-Lugar comum.
Sem tempo de olhar as horas, fui-me embora com atraso e com pressa; e aí tudo demora, tudo se embola, criando caso, atravancando o processo, o progresso; e no fim eu regresso até mim, me encontro, me desconheço e me pergunto:
-Valeu o preço?
Caçando assunto com esse estranho que me habita, e junto dele idealizando tamanho absurdo: corro tanto a corrida infinita que morro mas não me alcanço, me canso em contrapartida na pressa de não saber pra onde vou, de mudar o mundo sem saber quem sou, de descobrir que o tempo voou, e eu perdi tempo aqui sonhando com um tempo que eu não vivi, com uma vida de correria.
-Sem poesia...
E se eu tento escrever, o dever me chama, o relógio reclama, e é tanto problema, tanto rodeio (meu e alheio) que o poema fica pelo meio, manco, meio escrito, meio em branco, meio infinito, meio nulo. E eu perambulo na madrugada, sonâmbulo, implorando quase nada (tão pouco! que pra mim é muito!)... Como um louco em acesso, mais cinco minutos é tudo que eu peço.
-E mais um verso...
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