Cio de Agosto

Nuvens vermelhas flutuam baixo. As circunstâncias atmosféricas do mês de agosto facilitam sua formação em níveis vulneráveis à sensualidade humana, absorvendo as gotículas de sangue lançadas ao ar enquanto vociferamos nossos temores, nossas aflições, paixões, fúrias e desejos, sangrando como fêmeas férteis cujos óvulos não foram fecundados.Noites longas, frias e densas. Eis nossos corpos envoltos pela nebulosa encarniçada: entramos no cio e a grande fera sopra seu vapor sanguinário no deserto.,Hei, Senhor Lupino! Abandone seu covil e venha me pegar![...]Sinto seu hálito, seus beijos, sua língua úmida descendo por meu pescoço, minhas costas, meus seios, minha barriga, meu templo.Gemidos, sussurros: a heresia de uma fase lunar personificada pela condensação de nossos instintos carnívoros.Seus lábios macios sugam o fluido ferruginoso que verte de minhas nascentes em resposta à efervescência de suas carícias sinuosas.Sua fera pulsa entre minhas coxas.E eu sei: o Deus-homem nunca morreu.

Um poema sobre os nebulosos agostos.

Penha, Santa Catarina