Quem cura está curado,
Quem fere está ferido,
Quem não quer ser julgado,
Quer ser compreendido.
Ela pergunta:
- Sentes a venda de cetim levemente deslizando?
(Ela a desamarrou discretamente.)
Ele nada responde, pois mesmo assim não sente.
Ele tem uma névoa em seu olhar...
Ela então tenta ouvi-lo,
Decifrar as suas palavras que mal saem da garganta.
A voz economizada nesse momento mal é usada,
Perdeu o seu timbre sempre tão potente,
E junto, todo aquele jeito dele imponente.
É mais fácil decodificar hieróglifos do Egito,
Traduzir o latim medieval,
Ou achar a saída do escape room.
Mesmo para ela, que gosta de estratagemas, jogos e desafios,
Entendê-lo parece impossível.
Mesmo assim, ela não desiste.
Enfim, recebeu um convite e aceitou.
Ela quer voltar para esse mundo,
Dele, particularmente profundo, muitas vezes sem sentido,
Muitas vezes, mas adoravelmente maluco.
Ela quer as conversas íntimas,
E aquelas notas musicais.
Quem sabe, mais de perto,
Poderá ela assim o decifrar?
Levemente e despretensiosamente,
Conhecê-lo e também se mostrar.
Ela começa antes as suas teorias,
Cria as novas regras só na mente dela.
Cria esses novos personagens perfeitamente imperfeitos,
Que não sabem como agir,
Nem o que esperar e qual caminho seguir.
Chega na conclusão de que
Eles não querem o "era uma vez",
Nem histórias de contos.
Não querem falar sobre finais.
Isso não é nada demais.
Mas talvez ela ainda queira ser reconquistada.
Se ele tiver o mínimo de esforço,
Ela ainda tenta reconquistar,
E é boa nisso, ele não muito.
Ele é mistério,
Ela também aprendeu a ser.
Ele é leve,
Ela voltou a ser.
Ele dela quer equilíbrio,
Ela dele quer cumplicidade.
Ela é complexidade,
E também não é mais igual.
Ela pensa se algum dia foi mesmo especial.
Ela quer ser sua musa, como Gala foi para Dalí.
Eles são telepatas praticando a autossabotagem.
Têm medo dos sentimentos.
Ele quer de volta o controle,
Ela quer de volta entregar.
Querem mais paciência,
Querem espaço, equilíbrio,
Alguma coisa nova recomeçar.
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