Já apostei muito, no entanto, não ganhei nada, pois não tenho sorte. Jogar não tem muito a ver comigo, pois eu vim no mundo para passar tudo passo a passo, sem cortar ao menos um pedaço de minha história. Tenho que lutar com garra, para um dia vencer. Consegui o que tenho hoje, pois estou feliz em ser um pensador, idealista e historiador. Tornei-me um telespectador de mim mesmo, agradeço por tudo que aconteceu e por tudo que acontecerá ao longo da vida. Fico grato à contribuição dos meus amigos, professores, pais, familiares e outros que apareceram e desapareceram em questão de minutos. No entanto, ajudaram a construir meu espetáculo.

Já não consigo mais falar. Mesmo assim, compartilho a minha vida com carinho e amor, com todos os seres viventes do mundo, pois foram eles que expiraram o meu pensar e daí consegui encontrar poucas verdades em meio a tantas mentiras.

Portanto, morrerei, mas um dia voltarei para a realidade dos meus sonhos do passado. Estou só nesta caminhada, mas a solidão é protetora e amiga, transporta meu corpo deste mundo de corrupção, que eleva a minha alma para um passeio sem volta, sem fim, indo em direção ao mundo escuro, sem luz, sem vida, onde a minha alma morre.
Sonho todos os dias com isso, porque a vida é cheia de sonhos lindos e feios. Amo muito minha vida porque com ela poderei realizar as minhas vontades e ver a guerra que sempre traz consigo o mal do século, o destino de morrer, uma finitude mortal. Vem também a fome que faz a raça humana perder a cidadania, a moral. Chegando ao fim de esperar a morte ou a esperança que um milagre chegará.
Não sou um bobo e sim um criador de fantasias perfeitas que os olhos humanos não compreendem. Usarei de palavras de poder e jogo que transforma em moeda, como o trigo e a terra, para tornar a vida uma festa. Pois nada importa. Sou um brasileiro sem raça, mas com cor negra, de pés rachados, de dentes furados, feio, mas com vida digna.
Não quero me entregar a uma eternidade de ditadura social, imposta aos fracos, cujo poder é de tornar suas vítimas miseráveis, os quais nunca encontram os seus caminhos. Desejo ser lembrado mais mil vidas, que de tão feliz ninguém mais virá.
Penso na perfeição dos barquinhos que lá foram embora e os que nunca voltaram mais. Não sabia a sua cor, nem sua fala, ou onde viviam, mas os amava sem conhecê-los, porque não há maior riqueza do que uma criança feliz. Adormecido, o meu espírito dava sorrisos nos sonhos que se passam em uma nuvem branca como a neve, mas real.
Buscar a verdadeira realidade na vida é como velar um anel perdido com atenção, porque é lento o seu encontrar. Meu corpo não tem forças, meus olhos já não abrem, sei que um dia me tornarei comida desta terra.
Porém, não posso esquecer-me daquela linda criança negra, mais feliz com seus brinquedos feitos em uma dura infância. Aonde a alegria não vinha pela força da vida e sim pela mão do destino.