Cortejo das gaivotas

Braços fortes, mãos ágeis no leme.
Destemido marujo luta contra a fúria das águas do imenso oceano, que por ciúme, não deseja devolver ao sereno Itanhaém,
o pesqueiro.
Tentando manobras acertadas,mal percebe o destemido pescadoro cortejo das gaivotas, que em algazarra segue a barcanaquele nublado fim de manhã de primavera, quase verão.

A pedido do poeta, o sol rasga as nuvens, põe-se à pino assustando o relógio que quase perde a hora por bisbilhotar o fotógrafo que tenta eternizar o momento, numa moldura.

Paixão correspondida,a barcaça delicia-se bailando nos braços das ondas.
Zomba da pequenez do rio.
Agarra-se nas turbulentas vagas, não deseja voltar.

Enchendo-se de coragem, o capitãoclama por Netuno e, vence a maré.
Com desdém, turbilhões de águas salgadas entregam o pescador ao rio,  que exausto, ainda encontra forças para assobiar uma canção de amor.
Seu pensamento adentra humilde casa com varanda...
Um fogão à lenha, café coado na hora, cheiro de pão tostado na chapa, mesa posta, mulher e filhos em torno dela.

O cortejo das gaivotas segue em polvorosa. 
Que seja justa a partilha dos pescados.
Cabelos ao vento,pele tingida de sol, bravas mãos lançam cordas no ancoradouro,fazem as amarras.
Gritinhos de alegria da criançada,olhares curiosos,corações acelerados aguardam gratos o regresso dos guerreiros.

É hora da paga...
Aos berros, as gaivotas fazem voos rasantes sobre a embarcação,que esgotada adormece. 
Sonha estar novamente nos braços do seu amor. 
Este sim,este não,toma lá.

Satisfeitas as partes,algumas aves de barriga cheia, partem para novo show.
Outras, voam para os manguesais da exuberante Amazônia Paulista que circunda o rio.
Lá onde famintos filhotes aguardam nos ninhos, alimento.

O pescador, alma leve, voa para o lar, leva o sustento da família.
Estar no seu porto seguro, traz esquecimento da batalha travada.

Antes mesmo do despertar do sol,
no amanhã, o valente pesqueiro,
seus destemidos homens,
enfrentarão outra vez, o misterioso mundo do oceano que nas noites de luar, canta versos que só os que conhecem o amor,
conseguem ouvir.

Maria Isabel Sartorio Santos
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