O céu azul que pintei na tela
Caiu ao chão cheio de merda.
Igualzinho a minha vida.
Mas fui eu quem conduzi ela até agora.

Não estou querendo simpatia.
Veja bem: eu sempre fui cruel.
Também propenso à perversão absoluta,
Com requintes de insensibilidade e egoísmo
E temperado vastamente com mentira e ingratidão!

Pareceu-me boa ideia controlar os impactos
Do que eu não fiz e nem disse...
Mas nem dá para mijar a meio metro sem errar!
Eu sinto vergonha para depois da vergonha!

Quantas pessoas eu mordi na minha hidrofobia?
Passei por cima me sentindo por baixo
E a culpa era mesmo minha...
Já nem sei dizer como chegou nisso
E não quero tocar no assunto,
Pois é humilhante assumir que se errou o tempo todo.

Pelo visto eu quis pintar o mal
E as tintas respingaram em mim.
Não sei se há removedor.
Não sei se há tempo.
Nem se há vontade.
Só sei que fumaria um ou três cigarros,
Encheria a cara
E sentaria na sarjeta sozinho
Para esperar o fim dar um tapinha nas costas.