Ao me conhecer,
Suponho que não aprecio a derrota,
Vejo que ante sua perspectiva,
Lutarei muito para não ser derrotado,
Pois que não me basta a conformação,
Eu preciso sentir que fiz de tudo para não cair,
Para só assim conseguir atingir a resignação.
Mas então me cabe responder a algo realístico:
O que fazer quando perder for o destino já traçado?
É preciso então encontrar dignidade na derrota.
O ponto de partida,
Entendo que seja
Que a vitória não vale a qualquer custo.
Pois conforme o meio pelo qual se é vencedor,
Ser derrotado é acaba até por ser uma honra.
Ser justo, é ser ético, e ser ético é ser justo...
E quanto esforço temos que fazer para sermos justos.
Quantas ‘vitórias’ não temos que renunciar
Para que sejamos efetivamente justos.
E ao que caminha apenas pelo pragmatismo
Quanta tolice alguns podem enxergar nestas letras,
A estes imagino-os com um riso malicioso a me olhar,
Mal sabendo eles que os percebo,
E que por insignificante que eu possa ser,
Estes têm todo o desprezo de minha alma.
O que ainda que seja muito pouco,
Deve ter mais valor
Dos que prezam tanto em suas almas vazias.
Eis que é estranho,
Pois que para sentir o amor em sua totalidade,
Tenho que visitar uma certa indignação,
Que as vezes me parece ser coisa do ódio,
Talvez de raiva, e então acabo por entender,
Que se trata do significado da ira,
Pois não se baseia no calor do revide,
Mas na fria constatação da razão exausta.
Não me cabe perder tempo para mendigar justiça divina,
Parece ser mais adequado pleitear misericórdia.
E sentir uma certa gratidão
Por não ser tão miserável
Quanto aos astutos hipócritas
A escrever com as tintas do engano as suas vidas.
Reles seres, se pudessem
Ter noção de suas obscuras almas,
Teriam vergonha de si,
Não teriam como se encararem face a face,
Sem injuriarem-se pelo estapear da verdade sobre si,
A lhes desvendarem a iniquidade presente em seu existir,
E isto estranhamente talvez não fosse castigo,
Mas o momento mágico de se encontrarem consigo,
Algo entre o cômico, o dramático e talvez o trágico.
Em um desnudar, em que não existe vestes para encobrir,
Suas misérias de ser, não existem gestos para se ocultarem,
E não se fará necessário nenhum juiz para condenar,
Pois que ante a tal estado
Haverão de sentir a vergonha de si
E descobrirão que o tribunal a proferir sua sentença,
Onde ecoará sua condenação,
Se dará na solidão de cada um de si,
No despertar de cada consciência
Que insistiu em não ouvir,
E então saberão o preço do perdão,
Entenderão que só farão jus a misericórdia,
Se entenderem o caminho do mérito.
E neste momento temerão a eternidade,
Talvez riam ante à exaustão das lágrimas,
E talvez passem a entender
Sobre derrotas e vitórias,
E saberão que por tanto desconhecer,
Por tanto ignorar,
Sentirão como que os sedentos,
O quanto é caro uma gota de luz.
Para só assim entenderem
A longa jornada que o maldito terá pela frente
Para atingir um dia o mérito de ser bendito.
Gilberto Brandão Marcon
10/09/2023
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