Ares de Primavera


Flor perdida no vento,
Mensageira que veio de longe,
Traz letra cifrada em suas pétalas,
Traz cor que desconhecia,
Traz luz que pensei perdida.
Flor celeste, girassol lunar,
Não traz voz, mas pulsar cardíaco,
Sorri, pois sabe que lhe espero,
Olha-me, e lhe descubro oculta,
E finge estar perdida,
Mas sei que lhe encontro.
E acompanha horas que se foram,
E se aninha no crepuscular da tarde,
Na aurora que rompe a madrugada.
Flor que viajou despida de corpo,
Que veio apenas na forma de essência,
E visita para depois deixar apenas fragrância,
Perfume que encanta e traduz saudade,
Saudade de que? Se é objeto oculto.
Se se faz de mentira cheia de verdades.
Buquê de rosas, espinhos e pétalas,
E no toque de carícia, 
Oculta-se nos espelhos, 
No mundo virtual de sua irrealidade.
E brinda o cálice de doçura e fel,
Pois que traz contradição de ser.
E ser é inevitável, não tem rota de fuga,
Pois que se encontra no horário,
Na data marcada, no tempo perdido,
Nas vozes que cantam uma canção,
Nas poesias que se desfizeram em sílabas,
Que se desmontaram em letras,
Que fizeram o caos viver em harmonia,
Que criaram sementes na primavera,
Que fugiram levando os outonos,
Que roubaram o frio do inverno,
E criaram o seu próprio verão,
E no calor de si, no afeto suave,
Fez-se beijo na face, tocou carícias,
Para depois depositar-se nos lábios,
Que em seu silêncio, perderam palavras,
Murmuram dizeres, sons sem sentidos,
Que brotaram em significados,
Em sentidos e sentimentos,
Que por fim fizeram-se emoções,
Que repousaram num cantinho do coração. 

26/09/2009 
Gilberto Brandão Marcon