SUSPIRO DE UM CORAÇÃO
(Francisco de Assis Silva)
Se você tem seu amor
E com ele estar feliz,
Acompanhe este poema
E veja o que ele diz
E assim vai entender
O contraste e vai saber
Como vive um infeliz.
Isso aconteceu comigo
No ano sessenta e seis;
Eu estava em Juazeiro
E pela primeira vez
Saí em visita ao Horto
Meu ideal ficou morto;
Em tristeza se desfez!
No local vi uma jovem
Que reteve meu olhar,
Fisgado pelo amor
Vi meu coração ficar;
Senti meu peito ferido
pela lança de Cupido
Que veio em mim se cravar.
Me aproximei da garota
E lhe perguntei sagaz:
“Se já namorava alguém
Se havia outro rapaz...”
Ela falou de um moço
Que lhe causou alvoroço,
Prolongar não foi capaz.
O moço muito ardiloso
Certa noite de luar
Usou de um artifício
Já pensando lhe enganar
Disse que estava doente
De sinistra dor de dente;
Ia em casa medicar.
A jovem na narrativa
Disse que foi à “novena”
Na matriz de São Francisco,
Se deparou com uma cena:
Quando na praça passava
Com surpresa ela avistava
Ele com outra pequena
Trocavam ávidos carinhos
E abraço fortemente
Balbuciava “minha amada...”
E aquela jovem inocente
Pensou com seu dissabor
Nunca mais ter um amor;
Viver triste eternamente.
Quando ela terminou
Aquele relato enfim,
Me aproximei relutante
E me declarei assim:
“Sinto o coração pulsar
Pois quero muito te amar;
Por favor, diga que sim!”
Ela então me respondeu
Fixando em mim seu olhar:
“Não sei se devo ceder
Porque posso me enganar
E outra vez minha dor
Provinda de um falso amor
De novo vir me apertar”.
“Vamos resolver assim
Hoje à noite vou estar
Na pracinha da igreja;
Podemos nos encontrar
Pois te achei jovial
O teu porte achei legal
Eu posso outra vez tentar”.
Ao completar estas frases
Eis que entrou no cenário
A sua mãe apressada
Pra transformar meu fadário
Pegou seu braço e assim
Nem se despediu de mim,
Fiquei num cruel calvário!
Como se aplica o ditado
Fiquei triste a ver navio
Sua mãe nem percebeu
Que aquele fado sombrio
Me envolveu, me senti
Desapontado e me vi
Naquele cruel vazio.
À noite fui procurar
Aquela jovem singela
Lá no pátio da matriz,
Pois eu só pensava nela;
Porém não a encontrei,
Desesperado fiquei,
Pois caí na esparrela.
Voltei pra casa tristonho
Pensando na ilusão
Daquele encontro no Horto
Na triste situação...
- Seu nome ela não me deu,
Eu também não disse o meu,
Suspira meu coração.
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Poema dos meus 18 anos
Juazeiro do Norte-CE
- novembro de 1966
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