Agradeço a Deus pelo silêncio

Que às vezes se faz.

O silêncio permitido

Pelo rádio desligado,

A TV muda e vazia,

As vozes cessadas.

 

O som da voz de uma criança,

Medido e sentido pela distância;

O som do canto de um pássaro

Crescendo no silêncio.

 

O som de um serrote é o som do aço

E da madeira, tão primitivo

Quanto nos dias de Noé.

 

Baixo contínuo é o vento,

De tudo um violoncelo desafinado.

Poema sobre a qualidade da percepção da realidade que nos sobrevém quando estamos num ambiente de silêncio e calma, quando apenas os sons significantes da vida comezinha nos atingem distintamente, ainda que de uma certa distância, sons estes impossíveis de captar quando estamos num ambiente barulhento.
José Cassais
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