Cartas

“ Consideremos as cartas – como elas chegam na hora do café da manhã, e no fim da tarde, com seus selos amarelos e seus selos verdes, imortalizados pelo carimbo postal – pois ver o nosso próprio envelope em cima da mesa de outra pessoa significa nos darmos conta da rapidez com que os nossos atos se separam de nós e se tornam alheios. Então, enfim, o poder que tem a mente de deixar o corpo se torna manifesto, talvez temamos ou odiemos ou desejemos que seja aniquilado esse fantasma de nós mesmos que jaz sobre a mesa. Ainda assim, há cartas que meramente dizem que o jantar é às sete horas; outras encomendam carvão; marcam encontros. Nelas, a mão é quase imperceptível; isso para não falar da voz e da repreensão. Oh, mas quando o correio bate e a carta chega, o milagre parece se repetir – tentativa de conversa. Veneráveis são as cartas, infinitamente bravas, abandonadas e perdidas.”

 

Virginia Woolf – O quarto de Jacob ( pág. 95)
Autêntica Editora - Organização e tradução de Tomaz Tadeu.


Eloisa Alves
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