Não pouparei minha ousadia

A batalha não se adiou,
Já que o sol faz a morada
E se o calor nos despertou,
É porque vencemos outra madrugada.
Já me perco em outro recorte;
Em algo de romance com a vivência,
Mas vivência é palavra forte...
Também remete à dureza da experiência.
Tento reconhecer mais que a sorte
Nessa fila que nos baliza.
Tento aproveitar outro rebote,
É sobre o amor pela camisa.
Se o disfarce não me vale,
É porque não se oculta a tensão.
A indiferença já não me cabe,
Pois também sou pele desse chão.
E se nosso voto de confiança
Ainda não foi representado,
Talvez seja a tal mudança
Que ainda não viu o nosso lado.
Talvez seja falta de humanidade
Ou o que entendem como inteligência;
Gente jantando com voracidade
Moendo gente por conveniência.
Talvez seja só mais um plano
Para desorganizar o dia a dia.
Talvez me matem como no outro ano,
Mas não lhes pouparei minha ousadia.

R. Quiroga

Anotações do Cárcere