Meu Pai

Por Selma Nardacci


Conheci, na adolescência, um talentoso estudante de Medicina, que me disse que no período de sete anos, o ser humano, na sua parte física, passava por uma transformação, onde cada célula já teria sido substituída por outra. A cada sete anos um novo corpo. E de sete em sete, mesmo tudo se renovando, o corpo deixaria de funcionar e a pessoa morreria.Então, chegou o dia da morte do meu pai. Eu não tinha afinidades com ele, pois ele havia abandonado a família e por causa disso, havíamos passado um perrengue danado.Fizemos o enterro dele, bem simples, mas quando eu cheguei na capela, onde o corpo esperava o sepultamento; pra minha surpresa, tinha uma coroa de flores.Qual dos meus irmãos teria tido a sensibilidade de dar a e ele uma coroa de flores?Curiosa, corri para ler o que dizia a fita presa à cora: "Saudosa Homenagem do Centro Espírita de Vicente de Carvalho."Quase caí prá trás, comecei a arrancar a fita desavoradamente. Senti vergonha, pois eu era evangélica e não queria que os irmãos da igreja vissem, que a única coroa, que o meu pai havia recebido era de uma casa espírita.Mas o tempo, cumpre a missão de colocar tudo no lugar, não apenas transformando as células do corpo, mas mudando as ideias, abolindo os preconceitos e abrindo caminhos para novos horizontes.Hoje, sou professora de Ensino Religioso do Estado do Rio de Janeiro.Hoje, estou Espírita Kardecista, aberta ao diálogo e experimentando, a cada sete anos, a renovação da minha mente e consciência.Descanse em Paz! Meu Pai Pedro dias dos Reis.Desculpe-me pela bagunça que fiz na sua coroa de flores.Por causa daquele vandalismo, Deus me permitiu passar por todo um processo educativo de aprendizagem e respeito à liberdade dos outros.Receba, meu pai, embora depois de muito tempo, o meu pedido de desculpas e saiba, que mesmo, com todas as trapalhadas da vida, lá no fundo do meu coração , eu sempre te amei.

Selma Nardacci dos Reis
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