Solidão

 
Estamos ficando mudos. Um silêncio estranho e devastador
caminha solitário, pelas ruas semidesertas das cidades.
Papéis dormem silenciosos, nas gavetas,
embalando mensagens de amor ou de saudades.
Laços finos, como fios de seda, amarram relações afetivas que, à míngua
do olho nos olhos, esmaecem perigosamente em nossas memórias.
Eu não queria isso.
Os valores que cultivamos durante tanto tempo, não devem ser esquecidos.
Corremos riscos. O que os olhos não veem o coração não sente,
o velho axioma é comprovadamente verdadeiro.
Somos o que os nossos olhos veem; a mente não distingue o real do imaginário.
A razão sim.
Definimos as coisas, quando as vemos. Como vou lembrar quem é você se não nos vermos mais? Somos como espelhos, uns dos outros. Precisamos nos ver.
Sentimentos, emoções e apegos, são como vagões de um trem em marcha; lentamente vão se afastando e sumindo no horizonte das memórias.
Então, me agarro a meu velho gato. Meu próximo felino se chamará: “Schroedinger”. Homenagem a um grande físico que admiro.
Nome complicado para um gato. Melhor dar-lhe um apelido: Dingo.
Porém, para o quê sentimos, não há outro nome nem apelido a dar que não seja: solidão. Detestável!
Onde andam todos? Onde andas tu? Esqueceram meu endereço? Meu telefone?
Então isso é normal? Deve ser o novo normal.
Tudo bem. Quem sabe ainda façamos, uma festa no Céu
Quando encontrarmo-nos, novamente.
Não esqueçam, levem seus bichinhos de estimação para não ficarmos sem assunto
e poder “quebrar o gelo” dessa imensa e sofrida solidão.
 
Porto Alegre 29/09/2020.
José Carlos de Oliveira.

jose carlos de oliveira
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