Razão sem razões.

Razão sem razões                                                                                                                             O general chamou sua ordenança e disse-lhe para entregar, no endereço constante, o documento secreto que passou às suas mãos. A ordenança prontamente saiu para cumprir o mandado.

Na volta, o general chamou-o, novamente, e após certificar-se do cumprimento da missão perguntou-lhe:

Soldado me responda se souber. Por que você aceitou a ordem que lhe dei há poucos minutos?

Surpreso e confuso o soldado disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça: ordens são para ser cumpridas, senhor.

Tudo bem, diz o general, mas mesmo assim por que você a cumpriu? Senhor, porque é meu dever cumprir ordens de superiores.

Mesmo assim, onde está escrito que você tem de cumprir ordens de superiores?

Bem, responde o soldado, acho que não está escrito em lugar algum, mas o sargento sempre exige o cumprimento de ordens. E ameaça prisão caso não cumprida.

Entendo, diz o general, mas por que será que o sargento pensa assim? De onde o sargento teria obtido essa afirmação?

Não imagino, senhor, mas acho que ele foi instruído a isso.

Soldado — volta o general — você já percebeu que a maioria das coisas que fazemos durante o dia, não está escrita em lugar algum? Já parou para pensar como agimos como pequenos robôs, cumprindo automaticamente “ordens” que nem escritas foram?

Fazemos e deixamos de fazer coisas, simplesmente porque outros as fazem. Nunca, porém, questionamos as razões. Isso não lhe parece estranho, soldado?

Senhor, diz o alarmado subalterno, nunca pensei não; não tenho o direito de pensar. As coisas são como são e ponto. Se nos fosse dado tal direito, provavelmente o mundo seria bem diferente do que é hoje e, se me permite, senhor, nem continência ou reverência precisaria prestar, pois, não haveria ninguém “superior” a ninguém, nem hierarquicamente.

O general fez um discreto sorriso e disse: muito bem soldado.

Hoje, na hora do almoço você será meu convidado à mesa dos oficiais.

Não falte.

Porto Alegre, 01/02/21

José Carlos de Oliveira.

jose carlos de oliveira
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