Aleluia

 

 

A casa é a mesma.

Só não é a mesma cor.

Umas pinceladas claras

  -pátina sobre a dor-

e a leve impressão de que mudou.

Do portal, a Mantiqueira vigia,

a tudo presencia...

o entra e sai,

o leva-e-traz,

as manchetes matinais.

Aves fazem folia

festejam a alforria,

farfalham com alegria...

seriemas quebram a festa.

Tristes trinados... persistem.

A razão ninguém sabe,

nem quer saber....

Plantas nascem, crescem

no vaivém da vida,

chuvas caem, grossas, finas.

raios urram, donos do céu.

Grama esparrama,

lama atola...

A flor aflora, aqui e agora.

O sino da capela não toca

nem convoca.

O riso se cala, a fala é rara.

Há paz. Tanto faz.

O sol ainda nasce,

desperdiça beleza.

O arrebol hipnotiza

e a noite traz o breu.

A lua se escondeu.

Ninguém plantou “Aleluia”...

Ia doer. Chega de dor...

Falta algo. Não sei o quê.

Meu portal sabe.

Talvez você.

 

 

Carmen Lúcia