FALTA VOCÊ!
(Francisco de Assis Silva)
Hoje estou sozinho, em completo abandono
Que vem chocar a alma um não sei o quê...
Dentro dos meus olhos contemplo o outono,
Numa paisagem cinzenta e esse ar de sono
Que na primavera ninguém pode vê...
Não é amargura inoportuna que existe em mim,
Negrume e tristeza – é um desconsolo vago;
Agora sinto-me só, estou assim
Como a rosa que lá fora no meio do jardim
A brisa despetala num suave afago...
Uma densa neblina existe em meu ser
E na minha alma definhada faz um leve frio,
- se no exterior há calor e ouço alguém dizer
Cantando em regalo: “como é bom viver”,
Por que no meu infortúnio esse vazio?
Hoje sinto-me só, e há uma aflição
Nessa profunda e insensível mágoa...
Minha vida é uma amostra de imperfeição
Que se inclina à noite, na escuridão
No reparar atônito de uma poça d’água...
Agora a solidão me traz tanto mal
Permanecer só à noite nessa calma...
Tanta gente aflita, sentimental,
Percebe com certeza agonia igual
A que sinto agora marcando minh’alma...
Nas frestas da janela entra o odor
Tépido, que inebria e que perfuma;
Chega da sombra um sopro de calor,
Não sei, quem sabe, tem adiante um ardor...
Mas sei que não passa coisa alguma...
Esse sussurro que vem aos meus ouvidos
Que satura o ar assim dessa maneira,
É a melodia dos beijos escondidos,
Dos lábios sensuais e vencidos
Das carícias de uma noite inteira!
Bem sei o que suporto e o que almejo,
Iludo assegurando que não sei porquê,
- falta um olhar para o meu desejo,
Falta um corpo que quero e não vejo,
E tem uma lacuna aberta: - Falta você!
© Todos os direitos reservados