Canto de Desesperança

"... Já sinto ímpetos de empalar teus santos, de varar teus anjos tenros, de dar uma dentada no coração de Cristo!" - Raduan Nassar - Lavoura Arcaica.

 

Procuro a pílula da dor ou a indolor

Para dar cabo do estrume que sou em amplos sentidos?

Nunca entendi o porquê de algumas pessoas me darem ouvidos.

Nunca concebi que alguém pudesse sentir por mim, amor...

 

Eu sou um ambulante fiasco, aquele máximo fracasso.

Alguém que não se adequou à sociedade, embora quisesse.

Alguém que existe para a miséria e que nada tece

Nas costuras desgraçadas de injustiças que me tornam ainda mais lasso!

 

Ah... Como eu queria sumir em ânsias de não ser mais nada...!

Ao mesmo tempo, como eu queria poder entender o que é ser amado...!

Fico ou vou? Sinto-me sem futuro e nem passado...

Travo e espero um otimismo, ou jogo-me do topo da escada?

 

Qual entidade cósmica se apiedaria de mim

Se eu recuso, renego a cada uma delas com convicção?!

Eu sofro tanto... Nada resolve essa maldita equação

De um perdido em um labirinto de escárnios e traumas sem fim!

 

Eu me sinto aquele empalado e trespassado touro

Em uma sangrenta tourada, a qual, sádicos, veem como espetáculo...

Não quero nada além de tombar, sem chegar ao pináculo,

Pois que eu nunca tive e jamais terei uma era de ouro...

 

Eu bebo o álcool o qual me inebria para estar alheio...

Eu sei que alguns sofrerão por mim, mas eu sofro desde criança...

A dor e descrença se apossaram e eis meu canto de desesperança:

Eu berro em agonia ao ponto de que ao inferno, nem mais receio...